sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O dia em que me apaixonei por um tcheco...

            Apaixonei-me... E eu sabia que assim seria! Desde que vi o título "A guerra das salamandras" comecei a procurar por um exemplar nas bibliotecas da cidade, sem sucesso, é claro, uma vez que o escritor, Karel Čapek, não é tão popular aqui no Brasil. Passei a garimpar nas livrarias onlines e a única resposta que obtive foi: "produto indisponível!"... Sebos, então, impossível! Depois de muitas tentativas, simplesmente desisti...
               Eis que, num belo dia, o encontrei! Estava ali, escondidinho, bem no meio de uma pilha de livros que enfeitava o balcão de uma livraria. Não hesitei e logo pedi à atendente para que o incluísse na minha (habitual gigantesca) compra, mas, para minha surpresa, o livro estava reservado. Reservado!
               Confesso que pensei em chorar para que a vendedora se sensibilizasse com a causa... e acho que ela adivinhou (um pouco pela minha cara de decepção, talvez) e, evitando a situação que seria muito constrangedora, ligou para o cliente pedindo se ele ainda se interessava pelo livro. E não é que o rapaz desistiu da compra!?! Foi assim que consegui o tão desejado volume.
            Ao chegar em casa, imediatamente iniciei o ritual: abri, cheirei (amo cheiro de livro), analisei cada pedacinho, e, finalmente, parti para a leitura...
           Que história maravilhosa e que escritor fabuloso! Super indico! Confira a resenha que elaborei e espero que você se apaixone por Karel Čapek e por esse clássico de ficção científica da literatura mundial.
           Ah, é importante ressaltar que Čapek é o pai, ou melhor, o inventor da palavra "robô", que foi registrada na obra R.U.R., uma peça de teatro de sua autoria, para nomear os personagens humanos que obedeciam ordens para execução de trabalhos físicos. Tem como não se apaixonar por esse tcheco?

Resenha de Obra: ČAPEK, Karel. A guerra das Salamandras. Rio de Janeiro: Record, 2011.

            A história inicia com o capitão Van Toch que, em uma de suas viagens à ilha de Sumatra, descobre uma ilhota chamada Devil Bay, onde, segundo os nativos, não se pode ir pois o local está infestado de demônios. Curioso com as histórias populares, o capitão decide conhecer a ilha e averiguar o que de tão estranho lá vive. Após várias visitas noturnas, o capitão Toch, misteriosamente, decide tirar férias.
            Van Toch retorna à sua terra natal, Jevičko, para descansar e procurar alguém que esteja disposto a financiar a compra de um barco especial para transporte de animais aquáticos.
Ao ser informado de que havia, na cidade, um rico empresário chamado G.H. Bondy, não hesitou em procurá-lo para conversar sobre seu plano mirabolante e solicitar ajuda financeira para o grande empreendimento. Na casa do Sr. Bondy, Van Toch foi recebido pelo mordomo, Sr. Povondra, que mais tarde, ganha um espaço notório na narrativa por sentir-se responsável pelos acontecimentos catastróficos que viriam a ocorrer.
           G.H. Bondy recebeu o capitão Van Toch, ouviu a sua história com assombro e decidiu custear o projeto. A partir desse momento é que a história começa a ganhar corpo e tomar um rumo inesperado.
As salamandras, carinhosamente apelidadas por Toch de tapa-boys, eram ávidas fornecedoras de pérolas, produto muito estimado e bastante valioso na época. Imediatamente, elas foram transportadas para várias ilhas ao redor do mundo a fim de trabalharem na extração dos tesouros escondidos no fundo do mar. Em troca do seu trabalho, as pupilas de Toch recebiam armas (para se defenderem dos predadores), comida e todo o material necessário para trabalhar.
           O tempo passou e o padrinho das salamandras faleceu. Com isso, os grandes empresários tomaram posse do negócio das salamandras e começaram a utilizá-las para outros fins que não a extração de pérolas, explorando suas mais peculiares habilidades. Em meio aos acontecimentos, o número de salamandras no mundo aumenta significativamente. Não havendo mais condições de sustentar a superpopulação, os humanos passaram a cortar os gastos que tinham com os animais, gerando assim, uma grande revolta que resultaria na guerra das salamandras.
           Vários acontecimentos curiosos marcam a narrativa. Um deles, por exemplo, é que essa espécie inteligente de salamandras passa a ser vista como mão de obra barata para os grandes projetos subaquáticos do homem, por isso, elas são treinadas e comercializadas individualmente e em lotes (girinos, especializadas em trabalho pesado, etc...).
           Um belo dia, as inteligentíssimas salamandras, nessa altura já alfabetizadas, começam a tomar posse de ilhas e continentes, alagando países inteiros e, dominando, assim, o homem que fica à mercê da vontade delas. O grande negócio das salamandras, muito lucrativo, desmorona e os animais, aos poucos, dominam o mundo e, consequentemente, os humanos.
         O livro é indicado a todos os leitores que adoram viajar pela literatura fantástica. Além disso, é preciso ter a mente aberta às inovações do autor que, com muita criatividade, dá vida a animais que possuem uma inteligência superior à humana, subestimando assim, o poder que o homem julga ter sobre a natureza em função da sua racionalidade.
          Čapek é um grande nome da literatura tcheca. Sua obra é conhecida mundialmente e tem ganhado espaço considerável no Brasil entre os clássicos literários.




sábado, 17 de janeiro de 2015

O filho eterno




Uma linda história de amor e superação. Super indico!
Boa leitura...


Resenha de obra: TEZZA, Cristóvão. O filho eterno. 10 ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.



O romance contemporâneo “O filho eterno”, de Cristóvão Tezza, que tem como cenário a cidade de Curitiba, no Paraná. Narra a história de um pai que vive a experiência de ter um filho com Síndrome de Down. O discurso subjetivo gira em torno da convivência entre pai e filho, dos desafios de aceitação enfrentados pelo pai, dos estímulos provocados na criança para que ela possa levar uma vida praticamente normal e do vínculo afetivo que foi crescendo ao longo de vinte e seis anos.

Conforme sugere o título da obra, “O filho eterno” descreve as condições de uma vida de confinamento entre Felipe, uma criança diferente, e seus pais e, o quão prazeroso pode ser o sentimento de superação das dificuldades diárias enfrentadas pela família, para proporcionar condições melhores de desenvolvimento para aquela criança.

Segundo o descrito no romance, o primeiro filho de um casamento é uma “aporrinhação monumental”, pois exige uma série de cuidados, os quais são enumerados pelo autor, dando ênfase a um momento significantemente mágico, mas que ao mesmo tempo, exige uma mudança total na vida de um casal. O pai, que espera ansioso pela chegada do primogênito ao mundo, descreve a sensação única e sufocante de ver nascer um filho com trissomia 21, popularmente conhecida como mongolismo ou Síndrome de Down.

Observa-se a dificuldade apresentada pelo pai, em um primeiro momento, ao falar sobre Felipe com outras pessoas. O medo das explicações que seriam inevitáveis diante das perguntas e a vergonha que sentia do próprio filho, um “retardado”, são tratados de forma comovente, envolvendo o leitor nas revelações sinceras dos sentimentos e pensamentos mais íntimos de um pai que prefere a morte do filho, ao vê-lo crescer com uma anormalidade sem cura.

Além do foco principal, aparece no romance o acerto de contas do pai de Felipe com o seu passado. Uma espécie de organização dos acontecimentos da sua vida de ator e de relojoeiro, da época que morou na Alemanha e, ainda, das dificuldades e frustrações enfrentadas por um escritor que recebe frequentemente, as cartas de recusa de editoras para o pedido de publicação de seus livros, até a conquista de um cargo público em uma universidade federal que proporciona sua estabilidade.

Descreve, também, uma série de acontecimentos que se tornaram rotina para o casal desde o nascimento de Felipe. A trama segue com a luta dos pais em busca de clínicas e médicos que pudessem ajudar a criança, já que na época o assunto era pouco comentado. O pai realiza um estudo aprofundado, em livros e dissertações, para saber mais sobre a síndrome conhecida como “mongolismo” e sobre os cuidados que devem ser tomados nos primeiros meses de vida de Felipe, além de pesquisar sobre os estímulos que a criança deve receber para um melhor desenvolvimento, tudo isso atrelado a uma vida de dificuldades, entre elas, a financeira. O pai, figura importantíssima em todas as etapas do crescimento de Felipe, cria diversas artimanhas para melhorar o desenvolvimento intelectual e motor do filho, vibrando a cada evolução que ele apresenta, mesmo sendo mínimo o obstáculo superado.

O enredo dramático e, ao mesmo tempo, empolgante demonstra que, com o passar dos anos, Felipe tem uma crescente evolução. Narra os primeiros passos da criança, que luta contra o equilíbrio para manter-se em pé e as primeiras travessuras, como entrar no carro para brincar e descobrir a buzina, da qual passa a ter medo depois de ser reprimido pelo pai que pretende, apenas, parar com o barulho. Felipe passa a frequentar uma escola infantil, onde convive, sem maiores dificuldades, com crianças “normais”. Frequenta-a até os oito anos, quando a diretora chama os pais para uma conversa. Para a preocupação da família, ela afirma que não pode mais tomar conta de Felipe, em função da sua idade e da falta de profissionais para ajudá-lo no seu desenvolvimento. O mundo volta a desabar na cabeça do pai que, até então, estava tranquilo pela aparente “normalidade” do filho. A diretora sugere à família procurar por uma escola especial, onde Felipe possa se relacionar com crianças “como ele”.

A trama descreve ainda, as dificuldades enfrentadas pela família para que Felipe tenha uma adolescência praticamente normal, uma vez que, além da trissomia 21, ele terá que enfrentar uma sociedade desinformada e cheia de pré-conceitos.

Destaca também que, por precisar do apoio constante da família, Felipe desenvolve muito a parte da afetividade: ”Felipe abraça como alguém que se larga ao mundo de olhos fechados”, pensa o pai, afirmando que essa possa ser uma forma de compreensão e de comunicação com o mundo, já que o lado afetivo parece ser a única coisa na criança que não é prejudicada pelo distúrbio genético.

A obra é indicada para todos aqueles que gostam de uma narrativa dramática, crítica, envolvente e que, ao mesmo tempo, narra situações cômicas do cotidiano de Felipe e seu pai. A graça com que Felipe leva a sua “vida normal” e o carinho que o pai dedica diariamente ao garoto, contagia e emociona o leitor, fazendo-o perceber que a convivência com uma criança especial pode transformar-se em um grande aprendizado. Além disso, as questões tratadas são verossímeis, o que aproxima ainda mais o leitor do cenário criado pelo autor e dos acontecimentos narrados. O romance “O filho eterno” coloca Cristóvão Tezza entre os melhores e maiores escritores brasileiros contemporâneos.

Cristóvão Tezza nasceu em Lages, Santa Catarina, mas vive em Curitiba dedicando-se à literatura. É também colunista do jornal Folha de São Paulo e cronista da Gazeta do Povo, de Curitiba. Publicou, entre outros, os romances “Trapo”, “O fantasma da infância”, “Breve espaço entre a cor e a sombra” e “O fotógrafo”. Com a publicação de “O filho eterno” recebeu vários prêmios importantes, entre eles, “Prêmio Jabuti – Melhor romance 2008”, “Prêmio Bravo! 2008” e “Prêmio São Paulo de Literatura – Melhor livro do ano 2008”.
 

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Apresentação

 A ideia de criação do "Lendo com Jazz" surgiu de uma antiga paixão pela Literatura atrelada à inspiração libertadora que é proporcionada pelo estilo musical Jazz.

Entre livros e saxofones, o intuito é criar aqui um espaço para compartilhar saberes. 
 
O "Lendo com Jazz" espera a máxima interação do leitor, através de comentários e sugestões, para que possamos desenvolver posts interessantes, ampliar e melhorar o conteúdo do blog. 

Seja bem-vindo!
Pax et bonum.