Apaixonei-me... E eu sabia que assim seria! Desde que vi o título "A guerra das salamandras" comecei a procurar por um exemplar nas bibliotecas da cidade, sem sucesso, é claro, uma vez que o escritor, Karel Čapek, não é tão popular aqui no Brasil. Passei a garimpar nas livrarias onlines e a única resposta que obtive foi: "produto indisponível!"... Sebos, então, impossível! Depois de muitas tentativas, simplesmente desisti...
Eis que, num belo dia, o encontrei! Estava ali, escondidinho, bem no meio de uma pilha de livros que enfeitava o balcão de uma livraria. Não hesitei e logo pedi à atendente para que o incluísse na minha (habitual gigantesca) compra, mas, para minha surpresa, o livro estava reservado. Reservado!
Confesso que pensei em chorar para que a vendedora se sensibilizasse com a causa... e acho que ela adivinhou (um pouco pela minha cara de decepção, talvez) e, evitando a situação que seria muito constrangedora, ligou para o cliente pedindo se ele ainda se interessava pelo livro. E não é que o rapaz desistiu da compra!?! Foi assim que consegui o tão desejado volume.
Ao chegar em casa, imediatamente iniciei o ritual: abri, cheirei (amo cheiro de livro), analisei cada pedacinho, e, finalmente, parti para a leitura...
Que história maravilhosa e que escritor fabuloso! Super indico! Confira a resenha que elaborei e espero que você se apaixone por Karel Čapek e por esse clássico de ficção científica da literatura mundial.
Ah, é importante ressaltar que Čapek é o pai, ou melhor, o inventor da palavra "robô", que foi registrada na obra R.U.R., uma peça de teatro de sua autoria, para nomear os personagens humanos que obedeciam ordens para execução de trabalhos físicos. Tem como não se apaixonar por esse tcheco?
Resenha de Obra: ČAPEK, Karel. A guerra das Salamandras. Rio de Janeiro: Record, 2011.
A história inicia com o capitão Van Toch que, em uma de suas viagens à ilha de Sumatra, descobre uma ilhota chamada Devil Bay, onde, segundo os nativos, não se pode ir pois o local está infestado de demônios. Curioso com as histórias populares, o capitão decide conhecer a ilha e averiguar o que de tão estranho lá vive. Após várias visitas noturnas, o capitão Toch, misteriosamente, decide tirar férias.
Van Toch retorna à sua terra natal, Jevičko, para descansar e procurar alguém que esteja disposto a financiar a compra de um barco especial para transporte de animais aquáticos.
Ao ser informado de que havia, na cidade, um rico empresário chamado G.H. Bondy, não hesitou em procurá-lo para conversar sobre seu plano mirabolante e solicitar ajuda financeira para o grande empreendimento. Na casa do Sr. Bondy, Van Toch foi recebido pelo mordomo, Sr. Povondra, que mais tarde, ganha um espaço notório na narrativa por sentir-se responsável pelos acontecimentos catastróficos que viriam a ocorrer.
G.H. Bondy recebeu o capitão Van Toch, ouviu a sua história com assombro e decidiu custear o projeto. A partir desse momento é que a história começa a ganhar corpo e tomar um rumo inesperado.
As salamandras, carinhosamente apelidadas por Toch de tapa-boys, eram ávidas fornecedoras de pérolas, produto muito estimado e bastante valioso na época. Imediatamente, elas foram transportadas para várias ilhas ao redor do mundo a fim de trabalharem na extração dos tesouros escondidos no fundo do mar. Em troca do seu trabalho, as pupilas de Toch recebiam armas (para se defenderem dos predadores), comida e todo o material necessário para trabalhar.
O tempo passou e o padrinho das salamandras faleceu. Com isso, os grandes empresários tomaram posse do negócio das salamandras e começaram a utilizá-las para outros fins que não a extração de pérolas, explorando suas mais peculiares habilidades. Em meio aos acontecimentos, o número de salamandras no mundo aumenta significativamente. Não havendo mais condições de sustentar a superpopulação, os humanos passaram a cortar os gastos que tinham com os animais, gerando assim, uma grande revolta que resultaria na guerra das salamandras.
Vários acontecimentos curiosos marcam a narrativa. Um deles, por exemplo, é que essa espécie inteligente de salamandras passa a ser vista como mão de obra barata para os grandes projetos subaquáticos do homem, por isso, elas são treinadas e comercializadas individualmente e em lotes (girinos, especializadas em trabalho pesado, etc...).
Um belo dia, as inteligentíssimas salamandras, nessa altura já alfabetizadas, começam a tomar posse de ilhas e continentes, alagando países inteiros e, dominando, assim, o homem que fica à mercê da vontade delas. O grande negócio das salamandras, muito lucrativo, desmorona e os animais, aos poucos, dominam o mundo e, consequentemente, os humanos.
O livro é indicado a todos os leitores que adoram viajar pela literatura fantástica. Além disso, é preciso ter a mente aberta às inovações do autor que, com muita criatividade, dá vida a animais que possuem uma inteligência superior à humana, subestimando assim, o poder que o homem julga ter sobre a natureza em função da sua racionalidade.
Čapek é um grande nome da literatura tcheca. Sua obra é conhecida mundialmente e tem ganhado espaço considerável no Brasil entre os clássicos literários.